Nos últimos vinte anos o rendimento económico triplicou, porém os índices de felicidade diminuíram?!... Já agora, estudos efectuados colocam Portugal no 26º lugar, onde a Dinamarca está em primeiro. Mas aumentou a esperança de vida, temos mais escolas e até liberdade; devíamos portanto estar contentes?!... Todavia, o estatuto relativo assume maior importância que o seu valor absoluto. Isto é, todos adoram o teu jeep, bem melhor do que aquela velha carripana que só te deixava ficar mal. Ao que o visado responde: “Pois é, mas havias de ver o descapotável do meu vizinho, aquilo sim é boa vida!...”. Contudo, mais importante do que alcançar o topo, é o desfrutar do caminho que percorremos, desde o aroma das flores ou a cristalina frescura de um riacho, até ao sorriso castiço daquele miúdo tão giro que nos disse adeus. Perdemos a alegria porque estamos obcecados pela felicidade e fazemos da nossa existência um rascunho, sempre na infundada esperança de um dia a podermos passar a limpo. Queremos conquistar oceanos cujas ondas nos rejeitam, em vez de simplesmente cedermos ao doce apelo do mar salgado duma lágrima que nos chama!
O riso é a expressão mais visível da felicidade. Em média, uma criança ri-se 300 vezes por dia, enquanto um adulto apenas o faz em 30 ocasiões. Será um sinal de que à medida que crescemos vamos perdendo a satisfação?... Parece que sim. Pelo menos algumas pesquisas demonstraram uma correlação significativa entre o sorriso e o bem-estar. O riso é uma terapia extraordinária: aumenta a capacidade cardiovascular, diminui a ansiedade e estimula a criatividade, entre outros benefícios. Hoje, existem clubes do riso, originários na Índia, que pretendem induzir a boa-disposição através da reaprendizagem da genuína gargalhada. Claro que, como nos disse Erasmo de Roterdão, “Rir-se de tudo é próprio dos tontos, mas não rir-se de nada é apanágio dos estúpidos”. O sorriso aproxima as pessoas, a sisudez aumenta a distancia. Daí compreendermos melhor a expressão de desconsolo daquela mulher que só vê desinteresse nas trombas do marido, levando-a a questioná-lo: “Tu já não me procuras?!...” ao que ele displicentemente lhe responde: “Tu também já não te escondes!...”.
“É só conversa, se me saísse o euromilhões, eu dizia-vos o que era a felicidade!...” De facto, como referiu Joe Louis, antigo campeão mundial de boxe: “Na verdade não gosto de dinheiro, mas acalma-me os nervos”. Sem dúvida que o dinheiro, como afirmou um romancista britânico: “É como um sexto sentido, sem o qual não se pode fazer um uso completo dos outros cinco”. Todavia, prestemos atenção às sábias palavras do Dalai Lama: “Os homens perdem a saúde para ganhar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido!...”. Senão vejamos, quantos já tiveram os bolsos cheios, mas ressacaram que nem cães pela ternura de um abraço?... Definitivamente o PIB faliu como indicador absoluto do desenvolvimento duma nação. Adoptemos o FIB – Felicidade Interna Bruta, que contempla aspectos como a educação, cuidados médicos, cultura, justiça, afecto ou a qualidade do ambiente que respiramos. Afinal, não é de tudo isto que é feita a vida?!...
Isaac Newton observou: “Se um dia vi mais longe foi porque me ergui sobre os ombros de gigantes”. Com as devidas distancias e reverenciada modéstia, espero assim justificar tantas citações. Mas não resisto à derradeira, uma autêntica pérola de um Fernando português, genial Pessoa, reza assim: “Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da sua própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...”.